1. DESCRISTIANIZAÇÃO E MISSIONARIEDADE
- O tema da Iniciação à Vida Cristã se coloca dentro da preocupação missionária que perpassa hoje toda a Igreja, preocupada com a descristianização galopante tanto em países de antiga (Europa) como de nova cristandade (Brasil).
- Não é um tema novo, mas desdobramento do Diretório Nacional de Catequese (2005), de Aparecida (2007: uma Igreja em estado de missão), da Missão Continental (2008)... e tantos apelos atuais da Igreja.
- Por Iniciação Cristã se entende o processo pelo qual alguém é incorporado ao mistério de Cristo Jesus; não se reduz à catequese, mas inclui sobretudo a ação celebrativo-litúrgica.
- A catequese é um elemento, o mais longo e importante, do complexo processo pelo qual alguém é iniciado à fé cristã.
INICIAÇÃO SACRAMENTAL
- Teologicamente falando, a verdadeira iniciação se dá na celebração dos sacramentos do Batismo, Eucaristia e Crisma, chamados justamente, a partir do século XIX, de Sacramentos da Iniciação.
- Trata-se de uma iniciação que poderíamos chamar de sacramental. A estrutura catequética está em função dessa iniciação sacramental e vital.
- De fato, pela doutrina do “ex opere operato” a Igreja professa que todo batizado é verdadeiramente incorporado em Cristo Jesus e começa a fazer parte de seu Corpo Místico, do Povo de Deus, da Igreja.
- No entanto, a expressão iniciação cristã passou a significar todo o processo pós-batismal percorrido para se chegar a esta profunda realidade da fé do ponto de vista experiencial e existencial.
- É a iniciação que, uma vez realizada sacramentalmente, faz com que a pessoa se conscientize, assuma e viva plenamente essa maravilhosa realidade da vida divina comunicada pelo mergulho (batismo) em Cristo Jesus.
2. RETORNO À INSPIRAÇÃO CATECUMENAL
- O complexo processo que, desde o século II, prevaleceu na Igreja para iniciar os novos membros nos mistérios da fé, recebeu o nome de CATECUMENATO: era um conjunto de pregação (primeiro anúncio), práticas litúrgico-rituais, ensino, exercício de vida cristã e acompanhamento pessoal que levavam à verdadeira conversão ao Evangelho e incorporação na Igreja.
- Com a chegada da Cristandade (séc. V, VI), desapareceu o complexo processo do Catecumenato, ficando de pé, até hoje, o momento do “ensino-instrução” com o nome de CATEQUESE, e em geral dirigida à crianças.
- De fato, a comunidade cristã e a própria sociedade (ou civilização cristã) exerciam o papel de catecumenato social.
- A primeira experiência fundante da fé vinha da própria família e até da sociedade cristã, de um modo geral. A preocupação ficava reduzida à instrução doutrinal: e essa foi a herança que recebemos da cristandade.
- Hoje, com raras exceções, nosso povo não possui uma experiência de fé transmitida pela família, na convivência do dia a dia, e muito menos pela sociedade.
EXPERIÊNCIA DE FÉ
- Não vivemos mais a cristandade. É necessário um trabalho missionário, de primeiro anúncio, de evangelização no sentido mais estrito da palavra: anunciar Jesus Cristo.
- A Catequese, tal qual a recebemos e conhecemos como atividade de ensino e transmissão da fé, por mais que tenha sido renovada, não consegue realizar sozinha a iniciação cristã.
- Os frutos e as estatísticas aí estão... e continuamos a batizar, crismar, distribuir a Eucaristia abundantemente...
- Iniciar é introduzir, mergulhar... BATISMO é mergulho e participação no mistério de Cristo morto e ressuscitado! Batizamos sim... com muito esforço de renovação da Pastoral do Batismo e dos outros sacramentos da iniciação: EUCARISTIA e CRISMA!...
O MERGULHO
- Mas, podemos perguntar: essa gigantesca ação pastoral litúrgico-catequética, esses gestos sacramentais piedosamente celebrados e recebidos são realmente a transmissão e celebração de um mergulho vital no mistério de Jesus, de um encontro e compromisso pessoal com Ele e sua Igreja..?
- Ou continuamos a insistir num mal entendido “ex opere operato” que permanece gerando uma multidão de batizados não evangelizados? Ninguém duvida que o BATISMO, celebrado e recebido com fé, é uma real iniciação ontológica e sacramental ao Mistério de Cristo.
- Mas, do ponto de vista existencial e experiencial nada acontecerá se não houver para esses batizados um autêntico processo de Iniciação à Vida Cristã.
- Aparecida, com muita audácia, nos convida a “abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé” e a uma “conversão pastoral e renovação missionária...” (no. 375; cf 172-173; 11, 450...)
INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ
- Ora, assumir com seriedade, eficiência e eficácia o complexo e difícil processo da Iniciação à Vida Cristã é um esforço para colocar em andamento as arrojadas, corajosas e intrépidas propostas do Diretório Nacional de Catequese, de Aparecida, da Missão Continental... e tantos outros apelos que nos provêm de toda parte.
- O documento da V Conferência faz uma clara distinção, mas também uma profunda relação entre a Iniciação à Vida Cristã, como primeira “catequese básica” na forma de “iniciação cristã” e a consequente “formação permanente”.
- Assim se expressa: “Assumir esta iniciação cristã exige não só uma renovação de modalidade catequética da paróquia...
- Estamos diante de uma mudança de época: não se trata só de aperfeiçoar a catequese de adultos, jovens e crianças... mas de questionar todo o processo de transmissão e educação na fé que subsistem na Igreja nesta época de grandes desafios e, ao mesmo tempo, de grandes oportunidades.
- A oportunidade é justamente colocar em prática o que desde o Concílio, mas sobretudo nos últimos anos, se vem falando sobre o retorno ao catecumenato e à dimensão catecumenal da catequese.
AMADURECIMENTO DA FÉ
- Propomos que o processo catequético de formação adotado pela Igreja para a iniciação cristã seja assumido em todo o Continente como a maneira ordinária e indispensável de introdução na vida cristã e como a catequese básica e fundamental. Depois, virá a catequese permanente que continua o processo de amadurecimento da fé...”. (Ap 294)
- Isso significa que, aquilo que hoje tradicionalmente denominamos “catequese”, deve ser conduzido conforme o processo de iniciação, que é muito mais exigente e comprometedor, e não apenas “prepare para os sacramentos”, que infelizmente, em nossa realidade, tornam-se frequentemente “sacramentos de finalização” ou seja, são os últimos contatos que muitas vezes, jovens e crianças têm com a Igreja (... “sacramento do adeus”!).
- Estamos acostumados a falar de Iniciação ou do RICA (livro litúrgico que traça o percurso para se chegar ao Batismo) somente tratando-se de adultos não batizados. Hoje já não é assim.
- O exigente e muito eficaz processo iniciático hoje é proposto também para batizados (ou seja, já iniciados sacramentalmente, mas não experiencial mente), e mesmo para quem já fez a Primeira Comunhão Eucarística e foram Confirmados, mas não foram suficientemente evangelizados e iniciados na fé.
3. SEM DEIXAR A DIMENSÃO SOCIAL, APROFUNDAR A DIMENSÃO MÍSTICA
- Podemos também refletir que, logo após o Concílio, a Igreja de um modo geral, e sobretudo no Brasil, foi guiada e impulsionada por todos os documentos conciliares, mas sobretudo pela grande documento Gaudium et Spes: diálogo com o mundo, vivência do Evangelho a serviço da transformação da humanidade, de um modo especial em favor dos pobres, com suas consequências sócio-políticas...
- Daí nasceu a Teologia da Libertação, as práticas de uma pastoral transformadora e voltada diretamente para a situação concreta sofrida e desumana da maioria de nossos fiéis, para o engajamento sócio-político em nome do Evangelho...
- Nossa Conferência Episcopal ficou beneficamente marcada por essas grandes intuições do Concílio, sem deixar, naturalmente, tantas outras reformas conciliares!
- No contexto do Concílio o documento Ad Gentes, como o próprio nome indica, era pensado para as “missões”, para povos não cristãos que não conheciam a luz do Evangelho...
- Sem perder essa característica de anúncio do Evangelho para povos com nenhuma tradição cristã (missão nas fronteiras), a Igreja hoje percebe que precisa anunciar o Evangelho de um modo explícito e renovador, para povos de antiga cristandade...
- Nesse contexto, sem deixar de lado as conquistas à luz da Gaudium et Spes, precisamos retornar ao documento que ficou um pouco esquecido no pós-concílio, o Ad Gentes, pois, pensávamos, eram orientações mais para “países de missão”...
- Aqui no Brasil, embora não sejamos de tão antiga cristandade, tomamos consciência também de que precisamos nos transformar em “terra de missão”; precisamos ser Igreja missionária, no sentido mais próprio e exato da palavra.
- Disso nos fala o projeto da Missão Continental e todo o Documento de Aparecida...
- Ora, dentre os documentos conciliares, Ad Gentes, juntamente com outros, foi o que pediu a restauração do Catecumenato como metodologia própria para conduzir, aqueles que optam pelo Evangelho, a uma verdadeira iniciação à vida cristã.
- Portanto, missão, primeiro anúncio, catecumenato, Iniciação à Vida Cristã, são conceitos e práticas que começam a fazer parte de nosso dia a dia...
- Estamos diante de uma verdadeira mudança de época, diante dos desafios de um novo paradigma; não se trata, como dá a entender o recente Diretório Nacional de Catequese, de fazer algumas alterações, renovar superficialmente nossas tradicionais práticas catequéticas, fazer-lhes uma maquiagem... trata-se de mudanças radicais.
- Precisamos mexer na própria estrutura da tradicional “preparação para os sacramentos” e encarar os desafios de um novo modelo evangelizador-catequético, enfim, um novo paradigma... sem isso, não haverá “conversão pastoral”, nunca haveremos de “abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé”. (DAp 375)
- É nesse contexto que a Igreja se debruça hoje sobre a Iniciação à Vida Cristã.
- Não se trata só de iniciação cristã, como tradicionalmente se diz, mas sim de “iniciação à vida cristã”, expressão que procura traduzir a comunicação de uma fé que não se reduz à intimidade com Jesus Cristo mas que tenha reflexos e influências vitais na própria existência, levando à participação da comunidade, que no seu conjunto, deve dar Testemunho do Evangelho.
ETAPAS DO CAMINHO CATECUMENAL
É necessário conhecer bem a situação de cada candidato à iniciação, porque a proposta a ser apresentada deve ser resposta à “sede” que cada um experimenta com mais intensidade. Daí a necessidade de uma iniciação diversificada, com itinerários especiais. Citando o cap. VI do DNC são elencadas as seguintes situações, com um comentário sobre cada uma:
a) Adultos e jovens não batizados;
b) Adultos e jovens batizados que desejam completar a iniciação cristã;
c) Adultos e jovens com prática religiosa, mas insuficientemente evangelizados;
d) Pessoas de várias idades marcadas por um contexto desumano ou problemático;
e) Grupos específicos, em situações variadas;
f) Adolescentes e jovens;
g) Crianças não batizadas e inscritas na catequese;
h) Crianças e adolescentes batizados que seguem o processo tradicional de iniciação cristã;
????? PARA QUESTIONAR...
- A nossa paróquia está no rumo certo? Por que?
- Como podemos melhorar a catequese?
Da: SEMANA CATEQUÉTICA DA PARÓQUIA NOSSA SENHORA DA PAZ, DIA 29/01/2014
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